Se você já abriu o celular “só por um minuto” e reapareceu quarenta minutos depois, emocionalmente drenado, com a sensação de que o mundo inteiro está ruindo… você provavelmente já viveu o doomscrolling.
Esse hábito, tão moderno quanto devastador, é mais do que apenas “rolar notícias ruins”. Ele afeta o cérebro, distorce a percepção da realidade, alimenta ansiedade e prolonga um ciclo de alerta constante do qual muita gente não consegue sair.
1. O doomscrolling nasce de um instinto evolutivo, e as plataformas aprenderam a explorá-lo
O cérebro humano é treinado, desde sempre, para monitorar ameaças. Em ambientes naturais, isso nos mantinha vivos. Nas redes sociais, esse mecanismo se torna hiperativado: qualquer notícia ruim aciona o alerta interno, e o feed infinito nos dá a sensação de que existe sempre algo novo (e potencialmente perigoso) para vigiar.
Não é que somos fracos. Somos humanos usando tecnologia projetada para explorar nossa biologia.
2. O ciclo vicioso é real: quanto pior a notícia, mais o algoritmo entrega
O doomscrolling não é apenas hábito, é um sistema sistema completo. Pesquisas mostram que notícias negativas geram mais engajamento, e plataformas priorizam exatamente o que retém atenção. Isso cria um loop quase impossível de interromper.
Juntas as duas forças, viés humano e reforço do algorítimo, transformam a rolagem em um “ataque perfeito” à saúde mental.
É como se o feed dissesse continuamente: “Fique atento, algo ruim está acontecendo.”
3. O corpo reage como se estivesse em perigo real
O doomscrolling aciona respostas de estresse porque o cérebro interpreta notícias negativas como sinais de ameaça. A ciência já comprovou que a exposição repetida a esse tipo de conteúdo aumenta ansiedade, tensão, irritabilidade e piora o sono, efeitos típicos de um sistema de alerta ativado.
É por isso que muitas pessoas sentem aceleração mental, dificuldade de relaxar e a sensação de “não conseguir parar”: o cérebro fica preso em modo de vigilância, como se precisasse monitorar continuamente o próximo risco.
4. O cérebro começa a distorcer a realidade
Quando uma pessoa passa tempo demais consumindo notícias negativas, a mente começa a interpretar esse fluxo como um retrato fiel da realidade. Esse efeito não acontece de uma vez, ele se instala aos poucos.
O mundo parece mais perigoso, os problemas ganham proporções exageradas e a sensação de impotência aumenta. Surge um pessimismo constante que não vem de fatos concretos, mas da repetição. É como usar óculos que escurecem tudo sem perceber: cada acontecimento ruim parece confirmar que está tudo pior do que realmente está.
O resultado é uma visão distorcida, que alimenta ansiedade e esgota a capacidade de enxergar nuance, esperança ou equilíbrio.
Como escapar do ciclo do doomscrolling?
Sair do ciclo do doomscrolling não exige abandonar a tecnologia, mas aprender a usá-la de forma que não capture sua atenção por inércia. Um ponto de partida eficaz é criar pequenos limites de uso, como definir horários específicos para checar notícias e evitar abrir redes sociais logo ao acordar ou antes de dormir.
Outra estratégia útil é não facilitar a permanência nesse hábito: deixar o celular em outro cômodo, desativar notificações ou até remover atalhos da tela inicial para dificultar o acesso automático. Também ajuda reorganizar o ambiente digital, reduzindo a presença de fontes que intensificam ansiedade e diversificando o feed com conteúdos mais neutros ou construtivos.
Pausas intencionais ao longo do dia para caminhar, respirar, tomar água ou olhar pela janela funcionam como um reset para o cérebro, quebrando a sensação de urgência constante. Para quem sente que perde o controle com facilidade, vale testar períodos curtos de “detox digital”, separando parte do dia para atividades sem tela.
Pequenas mudanças sustentadas criam o distanciamento necessário para recuperar presença, clareza e a sensação de estar no comando do próprio tempo.
O que você quer colocar de volta no espaço que o doomscrolling ocupa hoje?